Lutor

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Justin era um homem simples, de família simples. Um camponês cuja maior alegria era colher com fartura os frutos de seu trabalho e o doce sorriso de sua bela esposa Ana. Devoto e fiel seguidor de Bahamut, Justin dizia sempre com humildade que o deus da justiça era sempre genereoso com seu humilde servo por lhe favorecer com tanto sendo que ele dispunha de tão pouco. As alegrias do jovem camponês, bem como seus louvores à Bahamut, se tornaram ainda mais constantes no seu quarto ano de vida junto com Ana. A camponeza de rosto rosado e longos cabelos negros estava grávida, e daria a luz, segundo as palavras de Justin, ao varão que iria transformar o mundo. Porém, infelizmente para Justin, a providência não foi tão benevolento com ele quanto ele esperava. No sétimo mês da gravidez, Ana começou a sentir algumas dores estranhas e teve de ser levada às pressas ao templo para que os sacerdotes pudessem tentar fazer algo por ela. Mas os sacerdotes do templo eram tão simples quanto a cidade, e não puderam fazer muito, a não ser induzir um parto prematuro cheio de complicações que acabaram por culminar na morte de Ana e no nascimento de uma criança pequena e franzina que os próprios clérigos davam poucos dias de vida.

- Infelizmente nós não pudemos fazer muito. Leve seu filho para casa, e ore para que ele consiga sobreviver! Cuidaremos para que Ana tenha as honras que ela mecere. Essas foram as palavras dos sacerdotes ao entregarem aquele criança que não inspirava ter muito futuro nos braços de Justin.

Naquela noite, ele levou seu filho para casa, mas as palavras "Infelizmente nós não pudemos fazer muito" ecoavam constantemente na cabeça do jovem camponês. Bahamut havia sempre sido tão generoso com ele, e agora, quando ele mais precisava, Bahamut havia dado as costas para ele. Onde estava a justiça nisso? Como o deus da justiça poderia fazer algo tão injusto? Justin passou um bom tempo ao lado da criança se fazendo essas perguntas e, a cada vez que ela olhava, a criança parecia ter parado de respirar para ele. Depois de alguns desses sustos, suas dúvidas se transformarão em praguejações e, mais alguns sustos depois, Justin repetia ao infinito que alguém, seja lá quem fosse, poupasse a vida de seu filho, que deixasse aquela criança viver, que ele faria qualquer coisa por isso, que ele daria qualquer coisa para que seu filho sobrevivesse. E repetindo esses pensamentos, Justin adormeceu naquela noite. Na manhã seguinte, Justin foi ao enterro de Ana, deixando a criança sobre a observação de uma visinha atenciosa. Tamanha foi a surpresa do jovem camponês quando, voltando para a casa, viu seu filho esbanjando saúdo a brincar com sua aia.

A criança recebeu o nome de Lutor, e cresceu saudável, quase como qualquer outra criança normal. Se o próprio fato da sobrevivência de Lutor já não fosse o bastante, sua saúde de ferro causava espanto nos moradores que viram nascer aquela criança quase morta.

Os anos se passaram, sem que Justin demonstrasse sua tão conhecida alegria, eu suas proclamas de aclamação à Bahamut, apesar de suas colheitas continuarem sendo boas. Na manhã do dia em que Lutor completou sua décima sexta primavera, Justin não levantou da cama. No dia seguinte, o garoto chorava enquanto o corpo já sem vida de seu pai era queimado em uma pira pobre, improvizada por alguns amigos e visinhos. Nessa ocasião uma figura misteriosa, oculta por debaixo de um pesado manto com um largo capuz aborda o jovem Lutor:

- Fiquei sabendo de sua perda! - Meu pai era jovem e forte, não entendo o que aconteceu! - Não é incomum coisas estranhas acontecerem, jovem Lutor! - Você me conhece? Conhecia minha família? - Podemos dizer que eu sou sua.... "madrinha".

A figura misteriosa oferecera-se para cuidar de Lutor. O jovem rapaz, sem pais, e sem conhecimentos para levar em frente sozinho a lavoura que fora de sua família, não vê com maus olhos a idéia de abandonar tudo e seguir aquela pessoa que parecia ser o que lhe havia restado de "família". Lutor então se mudou junto com sua madrinha para uma pequena casa afastada da população, perto de um pântano. No caminho até sua nova morada, entretanto, a estranha se revelara para Lutor em sua integridade: seu nome era Mirriel, e ela era uma succubus. A idéia de ter um demônio como madrinha a princípio assustou o garoto, mas uma criatura tão bela e formosa como aquela não deveria ser de todo mal, pensava o garoto, e, além do mais, se ela quisesse lhe fazer algum mal, já teria tido oportunidade para tal.

No tempo em que permaneceram juntos, a succubus revelou ao garoto estórias não tão verdadeira sobre um passado que ele desconhecia, mas que para ele soavam como verdade absolutas, já que ele não tinha por que duvidar de Mirriel.

Segundo a succubus, quanto Lutor nascera, todos os deuses voltaram as costas para as incessantes súplicas de seu pai para salvar a vida inocente daquela criança. Vendo o que acontecia, um servo de um antigo deus há muito esquecido aproximou-se do rapaz que implorava pela vida de seu filho e deu-lhe a opção de fazer com que a criança vivesse mas que, na hora certa, ela deveria seguir o caminho daqueles que buscavam acordar Malkizid. A oferta fora aceita e por isso Mirriel havia sido mandada para iniciar Lutor neste caminho.

Porém, essas informações nem tão verdadeira não foram as únicas heranças recebidas por Lutor de sua madrinha. Através dela o jovem estabelecera um pacto com Malkizid, pacto o qual concedia ao garoto poderes que ele nunca havia antes sonhado em ter. Seguido aos poderes vieram rapidamente o gosto em utilizá-los, em ver como as pessoas se curvavam diante dele. O garoto então, que nunca havia tido nada, para o qual as pessoas sempre olhavam com olhos desconfiados, incrédilos, duvidando que ele acordaria no próximo dia agora podia ver com alegria o terror nos olhos dessas mesmas pessoas ao ver o quão poderosa aquela simples criança se tornara.... e quis mais.

Mirriel dissera ao garoto que os poderes de sua pacto seriam apenas completos, e inimaginavelmente mais forte, quando Malkizid acordasse e voltasse a ser adorado como ele fora um